Agrodiário

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12/8/2011 17:40:37
 

NOZ-PECÃ

      Demanda de mercado impulsiona produção.
      Cerca de 120 municípios, localizados em diversas regiões produtoras do Estado, já estão utilizando a nogueira como alternativa de renda em pequenas e médias propriedades. Com bom rendimento e alta lucratividade, cultura cresce motivada pelo intenso consumo do produto
Cristian Puhl
(Redação Carazinho / DM)
 
Jornalista
 
 

     As nozes estão entre os alimentos que mais benefícios trazem à saúde. Mesmo em pequenas quantidades, o consumo diário pode evitar até 65% do risco de doenças do coração, além de auxiliar na redução do mau-colesterol, melhorar o funcionamento intestinal, cerebral e pulmonar e prevenir o câncer, pois o produto é rico em antioxidantes e vitamina E, também importante para a fertilidade masculina. A soma destes fatores nutricionais recomendados por profissionais médicos está impulsionando o mercado consumidor de noz-pecã e estimulando a produção no Rio Grande do Sul.

       Introduzida no Brasil por imigrantes norte-americanos, por volta de 1870, o cultivo da nogueira-pecã não teve um início voltado a comercialização, mas para o consumo particular e utilização como ingrediente típico em receitas culinárias. A partir de 1915, alguns produtores começaram a introduzir variedades comerciais e ampliar a produção, disseminando a cultura por diversos Estados brasileiros. No Rio Grande do Sul, a atividade se desenvolveu a partir de 1945, principalmente na região de Anta Gorda, que hoje ainda concentra o maior contingente de pequenos e médios produtores gaúchos. Dados do escritório da Emater/RS – Ascar daquele município apontam que, aproximadamente, 300 famílias produzem, em 70 hectares, cerca de 100 toneladas por ano. A pecã resulta em complemento de renda obtida com a produção de leite, suínos, milho, fumo e laranja.

      O diretor da empresa Divinut, Edson Roberto Ortiz, que há 20 anos trabalha no desenvolvimento e na análise de híbridos de nogueira-pecã e que há 10 fundou uma empresa para prestar assessoria e adquirir a fruta dos agricultores parceiros, revela que o mercado está demandando uma maior produção, sobretudo porque os consumidores estão cada vez mais conscientes sobre a importância de manter uma alimentação saudável. “E a noz-pecã tem muitas propriedades nutricionais, além de ser bastante saborosa. O mercado tem sido, então, o principal fator de incremento a produção”, destaca, relatando que pelo menos 120 municípios, localizados em diversas regiões produtoras do Rio Grande do Sul, já estão utilizando a nogueira como alternativa de renda para pequenos e médios produtores. “A atividade vem crescendo no Estado, tendo como fator principal a procura do consumidor por hábitos saudáveis de alimentação”.

(Em uma propriedade rural, no interior de Chapada, Ortiz falou sobre o cultivo de nogueiras e destacou o potencial produtivo / FOTOS DIVULGAÇÃO/EDSON ORTIZ/DIVINUT)

Consumo
Conforme Ortiz, a pecã produzida em solo gaúcho tem diferenças marcantes sobre as de outros países. “Como é o mercado que está puxando toda essa atividade, a produzida no RS é mais saborosa e adocicada, sendo preferida pelos consumidores”, reitera, acrescentando que a utilização em doces, tortas, sorvetes e chocolates é muito maior do que o consumo in natura da noz. “A fruta seca é de múltipla aplicabilidade, podendo ser consumida tanto em sua forma natural quanto na industrial. A Divinut, por exemplo, está focando mais nesta questão institucional, fornecendo para indústrias de diversos segmentos alimentícios e para grandes redes utilizarem em suas padarias, pois, infelizmente, o consumidor brasileiro ainda não está muito acostumado a comprar o produto na prateleira do supermercado”, avalia.

Rentabilidade
Através de parcerias e convênios firmados com universidades e centros de pesquisas nacionais e internacionais, a empresa comandada por Ortiz realiza um trabalho de cooperativismo com os produtores. “Operamos em um sistema de parceria com o agricultor. Ele implanta o seu pomar com assistência técnica integral, desde a escolha da melhor área, até a pós-colheita”, conta o empresário, que na semana passada participou de um Dia de Campo promovido por um agricultor carazinhense, em sua propriedade no município de Chapada, reunindo dezenas de produtores interessados em iniciar o plantio das árvores nogueiras e aproveitar o potencial mercadológico da noz-pecã. “A cultura apresenta uma boa rentabilidade em termos sócio-econômicos e também ambientais. Os produtores que já estão integrados ao sistema de plantio afirmam que ela é top, pois a remuneração oferecida é elevada, se comparada a outras atividades”.

A Divinut, segundo Ortiz, remunera em R$ 4,50 as nozes consideradas diversas, “sem raça definida”, esclarece, e R$ 6 aquelas originadas das mudas híbridas americanas fornecidas pela empresa. “A produtividade é bastante significativa e a projeção é de que, a partir do terceiro ou quarto ano, a colheita gire em torno de um quilo por pé. Nós recomendamos que em cada hectare sejam cultivados 204 plantas, com espaçamento 7x7. Grosso modo, é uma das melhores alternativas de renda”, admite, comentando que os produtores interessados em iniciar o plantio devem levar em consideração que a rentabilidade se dá a médio e longo prazo. “Os lucros não são imediatos. Então, o produtor necessita continuar sustentando a propriedade com outra atividade até obter o retorno dos investimentos iniciais, que não são tão onerosos”.

(Inspeção das nozes, na sede da empresa Divinut, em Cachoeira do Sul / FOTOS DIVULGAÇÃO/EDSON ORTIZ/DIVINUT)

Manejo
O plantio de nogueira-pecã, afirma Ortiz, não inviabiliza ou prejudica outras atividades, pois o manejo agrosilvipastoril permite o consórcio com outras culturas. “Como nós focamos em pequenos e médios produtores, a maioria dos cerca de mil pomares nos municípios estão nestas propriedades, pois conseguimos desenvolver uma técnica de cultivo adaptada a esse tipo de agricultor”, explicita o empresário, assegurando ainda que as maiores dificuldades encontradas no processo produtivo não são relacionadas a fatores tradicionais, como falta de tecnologia adequada ou infestação de doenças, mas sim a execução das indicações técnicas. “O que estamos percebendo é que como a atividade é rentável a médio e em longo prazo, os agricultores acabam relegando-a a um segundo plano, pois os que diversificam suas propriedades terminam por focar nas atividades principais. O produtor tem que tirar o leite, cuidar da soja, do milho, do trigo, enfim. E isso termina por prejudicar o desenvolvimento do cultivo de noz-pecã”.